quarta-feira, 9 de abril de 2008

Sunga baby



Recebi um telefonema por volta das quatro da manhã, era um amigo, com uma péssima noticia. Um de nossos grandes amigos havia acidentado em uma viagem de Florianópolis a Joinville, e o que se sabia é que o carro tinha dado perda total, e estava sem comunicação. Imediatamente levantei, peguei meu telefone, pronto para o pior, e comecei a disparar ligações incessantes para saber o destino do cabeção do Maradona, seu apelido pelas semelhanças incríveis com o craque Hermano. Que seja, não consegui mais informações, só do acidente em si, e mais nada. Decidi pegar meu carro e fui até o posto policial na BR onde falaram que poderia então ter alguma informação. Muito demorei a chegar, pois fazia chuva torrencial, parecia que jogavam baldes de água em meu vidro dianteiro. Pois bem, coração apertado, mas preparado para o pior, chego ao posto. Me deparo com a cena que ficaria marcada para sempre em minha memória, passe pelo carro esmagado no caminho, não havia possibilidade de vida pós acidente, mas segui corajosamente ao posto policial. Bem, vi ali, acreditem se quiser, o exmo senhor Hermano, sentado na calçada, abaixo de toda a chuva, cabeça baixa, triste, aparência abatida, vivo ainda bem, graças ao bom senhor, e um detalhe em peculiar, de sunga as quatro e trinta da manhã. Não acreditei no que presenciava, o senhor amigo meu, literalmente mamado em cana, de sunga e preocupado com as horas para voltar logo a Joinville para trabalhar. Após me sentir aliviado e o advertir muito mau humorado, me sentei ao seu lado na chuva e pedi maiores informações sobre o acontecido, eis que me veio uma historia curta, e digna de ser contada e apreciada pelos leitores de todo o mundo. Disse meu querido amigo que após uma noite maravilhosa com sua namorada, seguiu cheio de amor no coração em retorno a cidade de origem para trabalhar, com pressa em se vestir, decidiu vir mesmo de sunga, afinal era noite e jamais alguém o veria naquela situação. Pois bem, na estrada rumo ao seu destino, com irresponsáveis 130 KM por hora, acelerando ao Maximo seu carro, a vida e sua idiotice, ligou para o amor que ficara para trás, relatando que todos os dias na vida, todo homem deveria passar por algo que acelerasse sua adrenalina, que fosse ímpar e único, e disse o quanto a amava, que lindo, mas, ao desligar o telefone, já abaixo de toda a chuva que ali caia, veio a curva fatídica que fez seu veículo girar 360 graus e sair da pista, capotou, caiu, e desmaiou. Acordou após alguns instantes, tentou ligar o carro e viu que nada funcionava, saiu rapidamente dali e só via mato ao redor, uma selva, uma floresta, não, se lembrou, era mesmo o canteiro da BR onde corria de forma irresponsável e claro, detalhe que quase me passa despercebido, alcoolizado moderadamente, mas se achando o Senna das estradas brasileiras, saiu dali desesperado, pegou seu celular, nada funcionada, a área não pegava. O carro, totalmente destruído, no momento não veio a graça de ter sobrevivido e então foi ao acostamento da estrada pedir carona a alguma boa alma que ali estivesse passando, e curiosamente ninguém parou, ao observar um cara, de cabelos cacheados, abaixo da chuva, no meio do nada, acenando carona com a luz do celular em mãos, e... de sunga. Meu deus, passaram vários carros, até que enfim um parou, não para ele, mas em um posto policial relatando que havia um louco de sunga pedindo carona na estrada, o que seria, um tarado das estradas, um atleta de triátlon que perdeu o rumo em meio da madrugada, um segundo “ OIL MAN “ herói e personagem curitibano, só que na versão catarinense, um novo homem berinjela, o que seria?Tantas eram as possibilidades, mas, os policiais cansados do plantão não se deram ao trabalho de pensar e foram então para a sorte do sunga man, e lá chegaram e se depararam com a cena, um rapaz de idade média, de sunga e de joelhos na estrada implorando carona, levantaram o moribundo e perguntaram o que ele ali estava fazendo, ele apontou o carro fora da estrada, e ali, entenderam tudo, mais um caso de direção irresponsável só que com a peculiaridade da sunga! Pensando que seu martírio havia acabado, ao perguntar onde o levariam ou se poderia fazer uma ligação, foi informado que como o acidente era fora de sua jurisdição, seria entregue na fronteira demarcada a jurisdição correta para que fosse prontamente e que ironia, atendido então. Cansado de esperar, molhado e de sunga, no posto policial em questão, havia parado um ônibus para pedir informação, e nosso Hermano querido solicitou com todas as explicações possíveis ao motorista que o ajudasse com uma carona até o próximo posto policial, que prontamente e estranhamente a boa alma o ajudou. Entrou no ônibus, com cara seria, e sim, era uma excursão da terceira idade em pró da vida com vigor e saúde, que, acreditem, senhoras da melhor idade, ali percebi que o motorista queria era ver no que ia dar, meu amigo foi MUITO bem tratado pelas avós ali presentes, que o não fizeram pouco caso ou desmazelo do rapaz de sunga, afinal seu corpo não estava lá na pior forma, e foi assim, abaixo da chuva, de sunga e com assédio das velhinhas do ônibus em questão, chegou até ali, onde estava agora, comigo. Peguei o sunga man, subi em meu carro, e fui calado ao retorno, por vezes me abrindo de tanto rir, e claro, prometi que jamais contaria esta história com os dedos cruzados é claro.