quinta-feira, 28 de junho de 2012

Me sinto viva

Eu que nunca soube assobiar, escrevo. Escrevo na vã tentativa frustrada de amenizar minhas verdades escusas. Escrevo como quem compõe um soneto, sem se preocupar com a rima insípida, escrevo. E assim tento controlar os demônios do meu existir, mas no fundo, sei que nutro, todos eles. Escrevo como quem corta o pulso, e inundo páginas inteiras de sangue, suor, e cada gota do meu sangue toma forma de palavra. É disso que eu vou morrer, chegará o dia em escreverei tanto que irei secar, vazia de sangue e moralidade. Pois certa de minha insanidade insolúvel de entender, morrerei inóspita de tudo o que amo. Por hora, continuo com pequenas navalhadas diárias. E mesmo quando dói, eu gosto de sangrar... Escrevo só, simplesmente, enfio o dedo na ferida, pois a cada momento que a caneta toca no papel, me corto, me sinto viva.
... faço novamente a minha transição, sem respeito nenhum a qualquer argumento vil, pela simples mutação arcaica que não cabe em mim mas que toma forma. vou moldando sem saber o ritmo que a lucidez opera, e mudo o sentido, engulo a direção, derrubo todos os sinais de trânsito que é pra te ver percorrer bonito sobre as minhas avenidas contidas em todos os frascos vazios que te representam tanto. e só me resta mergulhar na secura da alma revolta de sons, aceitar, mesmo que não seja em silêncio e que eu quebre todos os vidros que sustentam suas fraquezas tão nossas. ... insuportavelmente perfeito, mente todo dia uma rima pra mim. me dá um tapa na cara ou um beijo quente que é pra ver se o sono vem, só espiar se ele mora por aqui, ou se meus devaneios se partem em tantos que chegam a ser nenhum. e se dentro de tudo o que eu cuspo existe um eu, que corresponde a qualquer delírio que cheira forte entre o travesseiro e a cortina. ou a folha que seca com sabedoria pela madrugada que vomito na própria pele. grita! me sufoca com a ausência de cor no teu peito, mistura minhas tintas e tenta por favor me confundir, que entre todos os muros e porta-retratos existe um pincel. nunca fiz parte mesmo, e nunca perdi lágrima com isso. escrevo pra alimentar a angústia que me alimenta, e minto pra te ver sorrir, muito melhor que tuas rimas de nuvens bobas. melhor que a vontade de sentir você violando todas as minhas virtudes e me entregando ao lixo, pior que um nada. abusada de tuas vestes tão ressentidas com as minhas. devorada pela tua sede de mim, só de mim, que me cansa tanto que eu já não vivo sem...