quarta-feira, 11 de julho de 2012

28 de Janeiro

Sentei na cadeira e coloquei aquela sua música para tocar, é meu ritual religioso. Eu diria para qualquer um que me ouvisse murmurando a melodia do meu menino. Final do dia sempre me cobre a face com a calma que vem dele, a pele branca que me arranca as dores de existir, os cordões, um de colorir amor e outro em pura liberdade. Não é apenas uma passagem no tempo, estaríamos nós perdidos nesse tempo algum? Haveria apenas uma resposta? Então eu organizo as viradas de ano e refaço cada palavra certa, porque é só a sua palavra que me convém até quando eu não ouso me contrariar. É a letra que vem do vale mais bonito da serra que quebra as massas cinzentas de concreto bruto que eu construí só porque eu precisava de armadura contra excesso de bondade. No fundo estreito do sentir fica esse sabor de chuvinha fina. O eclipse que aconteceu sem ninguém supor que estávamos lá, que a junção dos mundos éramos nós. Apenas Sol e Lua. De início parece que toda aquela construção que ele faz da boca pra fora, é mágica. -Deus, é pecado amar como eu te amo ?

Antigos questionamentos

Penso mais do que sinto fome, e do que falo. E fica sempre esse gosto indesejado de não me sentir completa, me olho no espelho e não entendo, parece que estou o tempo todo tentando não aparentar o que sou. Tomando cuidado pra que cada gesto expansivo não me limite, como uma capa protetora envolvendo minhas extremidades e afins. Acordo, e não sou louca. E repito de novo aquela mesma ladainha que até eu já cansei de escutar. Não muda nada, mesmo que tudo continue girando, faz parte do ciclo, ok, essa parte eu já entendi. Procuro não me prender ao céu da boca, tendo em vista minha infinidade de timbres e sons. Mais duvidosa do que nunca, sigo o trilho do bonde certa do risco, e arrisco. Sei que cada passo adiante é um ponto de interrogação, mas ora veja, aprendi cedo a beleza do desconhecido, e me atiro. Só por hoje, e com passos de bailarina, sei que nasci velha pra aprender a ser menina. - Você acha que voa alto ? Mas morre de medo de entrar em gaiola. - Na verdade você nem voa, filhote não sai do ninho. - Quem voa sou eu. Agora eu sei.