segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sua frase

Eu estava perdida num sonho onde você não podia entrar. Porque era feito dos nossos pedaços. Cada camada de sonho foi uma cena que você construiu no meu consciente. Não existe paralelo entre meu rosto e suas feições. A nossa causa era a versão única da memória. Naquela viagem em que o frio fora mais forte que a vontade de desbravar o território e nos lançamos nús. O primeiro que não era caro nem barato, perto dos bares, próximo daquele pedaço de madeira onde escrevi a frase que hoje não-me-vem-de-jeito-nenhum. Às vezes lembro que o esquecimento é bom. A essa altura do campeonato eu já teria feito um outdoor com a frase que outrora significou o íntimo. Só para você rir e saber que eu faria todas as tolices da paixão para ver os seus dentes enormes aparecendo. Sempre tive inveja do tamanho dos seus dentes, eu não podia morder maior que você. Não, eu não mordia pequeno. Meus dentes é que insistiam em ser miniaturas do meu potencial, que é enorme. Eu não tava esperando você me agarrar pelas costas e falar meu nome com a maciez que só você alcança. Eu queria esse beijo gostoso. A rede embalando nosso vazio ao violão. O sabor da nossa palavra em silêncio. Que habita todas as varandas e abre todas as janelas dos que têm coragem de amar assim. Profundamente. As luzes se apagam! - Eu te quero muito. - Eu também, pequena.

É você que eu quero

Você que segura minha mão no escuro, eu te reconheço a face pelo cheiro doce , o gosto salgado, pela tinta que eu espalhei no lençol azul que cobre a sua cama. Escuta que eu te quero de um modo despreparado, eu não havia vivido para essas descobertas, meu coração não escreve com balões de neon garrafais para você entender o óbvio. Que é de toda importância esse toque, seu, meu; que retira as dores de cabeça sem vidros nos olhos. É você mesmo que me faz não ser eu para ser melhor, sem bolhas cintilantes de outras galáxias. Você quem vale a pena. É você que eu quero.

Insana

Já pensei em me esvair em palavras, arrancar todas até não sobrar eu. O que restaria então? Sonho travestido de sombra dos dias híbridos. Peito aberto, fratura exposta, meu coração forte, frágil, desvairado em consciência. Quero pintar as paredes de dentro de azul, um azul pungente, que esmagasse a certeza que fazia encantamentos sórdidos. O por debaixo dos panos me vibrava as percepções com a cartola na cuca maluca. Faço mágica com as palavras, mas a platéia percebe o truque? Estou vestida de escolhas, não tem coelho na minha cartola, é tudo paixão. Não acredito em nada que não tenha paixão. A velha falta de compostura. Um reencontro ácido. Intenso. Magnético. Essa lua cheia brilha comigo. Em impulso pensado, entendido, só porque você gosta. Tocava um rock ao fundo. E te bastava a voz de dentro. Nua. A girar pela noite fria; próxima de sentir o gosto cinza calçada que invadia sua bolsa com estampa de artista mexicana. Antes de dormir. Sorria. Com o entendimento de uma pecadora por excelência; ruminando nos corpos alheios, sua audácia de viver.
porque o gosto é diferente. porque o jeito é diferente. a voz mais suave. o desejo mais forte. quando encontra de um lado da rua. quando olha. pelo menos é a sensação que eu espero, que eu quero. do superficial pro absoluto. do vazio pro cheio. querendo encontrar e tocar outra vez. tem espaço pra isso? tem tempo pra mim? talvez eu consiga aprender a deixar a vida fluir sem ser à força. talvez eu consiga entender cada uma das limitações. o tempo não é o mesmo. o desejo não é o mesmo. talvez eu consiga. talvez eu queira esperar. Uma intolerância tinha ganhado espaço na minha devastação, não era o genio forte que me fazia elevar a voz, era a falta, o reencontro com o que morreu.

Astronauta emocional

Perdida como no espaço, alguma expectativa? vai mentir que não. talvez seja hora de começar a seguir meus próprios conselhos. ou parar com essa hipocrisia idiota de se achar dona da razão e das idéias certas. pelo que eu tenho sentido talvez seja o oposto disso. se joga. pula. faz tudo o que quiser fazer. o que, de fato, quiser. não o que pode esquecer na manhã seguinte. se precisa controlar o corpo deixa a alma livre, aberta, ganhando espaço pelo mundo alheio. é fácil? difícil? que sentido esse tipo de limitação pode ter? é o que fica gritando dentro que uma hora se solta de si, se prende em outro. se quer fazer alguma coisa hoje. diz. se quer dizer que sente alguma coisa. faz. passa o tempo. passam as mágoas. passa a vida. passa o forte e volta o superficial. pelo caminho e pela experiência tenho perdido tempo. perdido o foco. perdido memória, lembrança, sentimento, opção, controle. o que pode mudar? me tranca em um lugar, sem porta, sem janela, no escuro limitado pela fresta, me deixa ver o lado de fora sem poder sair. me deixa sozinha. talvez assim eu desista das minhas escolhas. talvez assim eu escute os conselhos que eu não quero seguir. (não todos. faz o caminho oposto e me deixa assistir você se distanciar. fica longe. e canta no volume mais alto. eu guardo a voz na memória. e dentro. até que os poros se abrem e a reação se força a sair. é como uma metáfora. é como uma ironia. uma pessoa que se desliga deixando o mundo no superficial. quando passa por tantos o que justifica se ligar a um? qual é a estranha escolha do acaso que me faz lembrar só dele? o que mais se afasta? o que mais encanta? descanso algum tempo. cansada de bater na porta trancada. cansada de tentar passar pela fresta. pelo menos a voz. cansada da ausência do mundo. e da companhia insuportável de mim mesma. o corpo suado, a boca seca. sussurando. pelos cantos como se alguém que não ver pudesse ouvir. quase ouço a resposta. quase ouço você. e fico voltando. indo e voltando. de um lado pro outro. com o corpo cansado. com a cabeça doendo. tentando dormir pra começar a viver do lado de fora.

Mente acelerada

em uma sala vazia, em um andar vazio. já faz algum tempo que não passo tanto tempo diante de uma tela branca sem saber o que escrever. vou tentando e ocupando as linhas. cada vez mais devagar. sensações no minimo estranhas, sons no minimo impróprios. do elevador vazio. da porta abrindo. junto aos sons habituais. tantos e tantos. uma saída rápida pra mais um cigarro. mais um xicara de café. tentando fazer o tempo passar devagar e ele corre. uma noite que promete ser longa, ser intensa. como tantas. comum. cansativa. excessiva. será que importa essa sensação e esse descaso com que tenho levado a vida? será que realmente faz diferença pra alguém? acho que me soltei do mundo e de todas as limitações e incoerências que as pessoas proclamam. bradam. gritam. o que se faz em silêncio. o que se espalha pela vida. vai contando histórias próprias, abrindo o próprio livro e deixando-se ler. será que conhecer tão bem alguém pode, de fato, gerar certa repulsa? acompanha os olhos que se abrem com sono, o café frio do dia anterior, o cigarro matinal, o imenso percurso do dia, as noites mal dorminas, o excesso de bebida. acompanha. vai falando mais alto, contando mais, pedindo mais atenção. como se consegue ficar sozinha em um ambiente barulhento e cheio? Não sei se aceito companhia. se sente deslocada. se sente ao mesmo tempo superior e inferior. maior e menor. parece que em poucos segundos toda a sensação e as escolhas mudam. de uma menina visualmente feliz. parte pro clímax oposto. aí está a grande história, o apice. que vai lentanmente se transformando em um fim de filme, música, história. não acho que desenvolva uma trajetória clara. mas será que é necessário? não acho que as coisas por aqui façam sentido, não espero que façam. vou deixando uma parte de mim fluir de um jeito estranho e contar um pedaço, um segundo, um minuto (no máximo) de algumas dessas sensações. as vezes não acho que quero tanto um conto curto de um bom dia. um sorriso mais livre, não daqueles que se forçam pelo reconhecimento, não de cumprimento. quero mais tempo. mais cuidado. mais respostas. mais força. mais companhias ? qual é a principal busca? qual é o principal desejo e medo que coexistem num corpo só? se me ensinar a superar talvez os sentidos se alterem. talvez eu traga de volta a beleza de certas linhas. talvez eu saiba o que escrever. talvez eu construa novas histórias. sem uma auto-biografia pseudo poética na qual tenta se camuflar. se as pessoas tem medo de deixar a vida contar. eu continuo. sem importar se alguém reconhece. se alguém se encontra. quero mais é guardar no tempo as experiências que eu tive, que eu tenho e que eu posso ter.