sexta-feira, 29 de junho de 2012

Meu

Você dormindo e eu aqui escrevendo...é tão bonito, estranho, confuso te ver dormir enquanto o vento adentra o quarto como num ballet sem métrica, enquanto eu temo pelo frio da janela aberta e das expressões que tua face semeia, sucumbindo a exímia luxúria de todos os barulhos que me lembram das minhas fatalidades mais humanas, que quando eu tomo qualquer tipo de coragem insana na espera que teus sonhos não machuquem a tua realidade é pra que me entornes prazer por todos os poros abertos de nossas delícias. e o vento não é mais cruel com o amanhecer no ápice de conflito que sinto o movimento do teu corpo quente na minha luminosidade inoperante, e apenas te estendo o cobertor enquanto você relaxa e eu digo pela trigésima vez que te amo. de um jeito tão calado que é quase como se eu não tivesse dito, e tão representativo como se eu nem precisasse falar. confesso que me dói a tua imagem tão inexorávelmente sublime, que diante dela só me resta a contemplação de um ideal voraz que nutre em minha mente as fomes mais insaciáveis e em troca dele tu me ofertas teu ombro suado de tanto percorrer os meus jardins, me deito, com a certeza do meu caos, e do nosso bonito estranho confuso eterno amor... é você meu menino, eu sei que era pra ser você!

Desprender

É chegada a hora.Desprender à si. Deixar a roupa ir embora com a areia, lavar a alma do corpo; deixar romper, andar pela simples motivação do dia quente, sem invasões de pensamentos bárbaros. Sem aquela nostalgia que inventamos, apenas deixar ser. Porque as folhas daquela árvore que se derrama pela calçada pode ser toda a minha razão e todo o meu começo. Façam as malas meu signo mudou. De malas prontas parti pra sempre. Demorou, mas agora que decido não vou mais retroceder.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Me sinto viva

Eu que nunca soube assobiar, escrevo. Escrevo na vã tentativa frustrada de amenizar minhas verdades escusas. Escrevo como quem compõe um soneto, sem se preocupar com a rima insípida, escrevo. E assim tento controlar os demônios do meu existir, mas no fundo, sei que nutro, todos eles. Escrevo como quem corta o pulso, e inundo páginas inteiras de sangue, suor, e cada gota do meu sangue toma forma de palavra. É disso que eu vou morrer, chegará o dia em escreverei tanto que irei secar, vazia de sangue e moralidade. Pois certa de minha insanidade insolúvel de entender, morrerei inóspita de tudo o que amo. Por hora, continuo com pequenas navalhadas diárias. E mesmo quando dói, eu gosto de sangrar... Escrevo só, simplesmente, enfio o dedo na ferida, pois a cada momento que a caneta toca no papel, me corto, me sinto viva.
... faço novamente a minha transição, sem respeito nenhum a qualquer argumento vil, pela simples mutação arcaica que não cabe em mim mas que toma forma. vou moldando sem saber o ritmo que a lucidez opera, e mudo o sentido, engulo a direção, derrubo todos os sinais de trânsito que é pra te ver percorrer bonito sobre as minhas avenidas contidas em todos os frascos vazios que te representam tanto. e só me resta mergulhar na secura da alma revolta de sons, aceitar, mesmo que não seja em silêncio e que eu quebre todos os vidros que sustentam suas fraquezas tão nossas. ... insuportavelmente perfeito, mente todo dia uma rima pra mim. me dá um tapa na cara ou um beijo quente que é pra ver se o sono vem, só espiar se ele mora por aqui, ou se meus devaneios se partem em tantos que chegam a ser nenhum. e se dentro de tudo o que eu cuspo existe um eu, que corresponde a qualquer delírio que cheira forte entre o travesseiro e a cortina. ou a folha que seca com sabedoria pela madrugada que vomito na própria pele. grita! me sufoca com a ausência de cor no teu peito, mistura minhas tintas e tenta por favor me confundir, que entre todos os muros e porta-retratos existe um pincel. nunca fiz parte mesmo, e nunca perdi lágrima com isso. escrevo pra alimentar a angústia que me alimenta, e minto pra te ver sorrir, muito melhor que tuas rimas de nuvens bobas. melhor que a vontade de sentir você violando todas as minhas virtudes e me entregando ao lixo, pior que um nada. abusada de tuas vestes tão ressentidas com as minhas. devorada pela tua sede de mim, só de mim, que me cansa tanto que eu já não vivo sem...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Faz tanto tempo, querido. Eu te deixei aqui, só de mim. Não precisa me pedir para inventar uma máquina do tempo que me torne menos humana por dentro no sentido do que é real, calma, respira, eu nunca quero explicações; não percebes que meu sorriso não se ausentou das tuas páginas?! Desse branco que me rasura na fina espera da arte final. Pode rir! Com a glória que eu iria chegar aqui. Sabe, querido, eu dou risada as avessas. Quando a gente quer que alguém volte por completo, a gente constrói qualquer cousa. Os meses foram charme, que saudade dolorida que você me faz. confundida com as minhas habilidades verborrágicas. eles estão ali. eu aqui. não tenho vontade de misturar-me. de virar uma coisa só. preciso do silencio do estômago. minhas pernas querem dar voltas..os olhos tentam dormir. onde mora a unificação das cousas? tenho dias de aprendizado..quietinhos. busco uma forma de resgatar minha essência familiar...ter o zelo que me escapa nas vozes. e como eu faço pra juntar meus pedaços que se espalharam por tantos cantos que eu não sei onde procuro...? talvez eu saiba...ignore respostas. o imperativo categórico é recomeçar..a primavera veio...e eu? fico aqui esperando mais uma? não. dizer não basta.. expressar, tão pouco. surpreendo-me com as diversidades...a simplicidade. eu precisei afastar-me de tudo pra perceber que tudo o que quero e sou é com elas. origens. eles. dá tempo de voltar? reconstruir...ser mais doce e menos eu? o coração de melão me diz sim... que a vida dá o tempo que a gente precisa. mas eu não acredito. prefiro o simples e feio. tenho que rasgar os tecidos pra ver a cor das linhas. vínculos? sangue? o eterno que não percebo... voltem pra mim.. o que eu to dizendo... vocês sempre estiveram aqui....

terça-feira, 26 de junho de 2012

Sinto a fragilidade humana pulsar sobre os meus olhos, me surpreendo. Mas nem tanto, eu sempre soube os riscos da vida e que senti-los não é uma opção. As flores precisam aprender seu lugar no jardim, e que são únicas de formas e jeitos. Ser flor não é defeito. E lá, na lua, eu tento ajudá-las. Não esperando qualquer retorno vil, quiçá por bondade, é que vim a terra com o intuito de prosperar o amor. E o faço de maneira inconsciente, tenho um mecanismo existencial que faz moradia em mim. E vez ou outra vem aquele meu esgotamento racional, a vontade demasiada de respirar, e sem conseguir, sorrio. Estou absorta das ignorâncias universais, sem paciência pra utopias astrológicas, estou cética, fria, e não tenho medo de mudanças. Minha alma é tão velha que a sabedoria se faz sempre presente, ignoro minha idade física, transcendental a todos os conceitos. Não vejo graça em brincar de amor, lugares cheios, sensos superficiais. Não tenho saco pra garotada, almejo tanto, analiso o sentir, e busco o equilíbrio entre todas as coisas. O mérito da sensibilidade não está em sentir e sim em compreender o que nunca será passível de fazer sentido.

Instintos

... meus instintos mais selvagens revelados em pequenos goles d'água. minha cartela de cores que só dá vermelho sangue em sínteses que não utilizo, e fica tudo tão assim, como se eu tivesse que me curar sem nunca estar doente. as fragilidades escorrem mais rápido da mão do que a areia que eu piso e esfrego na cara de todos que se atrevem a viver normalmente. meus bichos internos, soltos na selva de minhas redenções homeopáticas, correm livres de meus sermões nada cristãos enquanto o barulho da chuva cala meu inconsciente pseudo coletivo. meus pés tão gélidos de minhas idéias etílicamente pálidas. não faz mal, não sinto fome quando penso e me forço aos tortuosos goles. meu desejo seco de reverberar entre as suas entranhas é feroz e arranha. bicho estranho sem cor que me cheira, camuflado entre o veneno que destilo em suas vísceras, copulando desvairado meus ideais no ar. me corta com suas unhas negras, arranca meus resquícios de vergonha com teus dentes afiados de selvageria milenar, e agora sim, cobre a pele exposta com teu pelo que dói e protege de ruídos noturnos. quando pássaros se calam, as árvores somem, a luz se apaga, só resta eu e meus bichos...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sua frase

Eu estava perdida num sonho onde você não podia entrar. Porque era feito dos nossos pedaços. Cada camada de sonho foi uma cena que você construiu no meu consciente. Não existe paralelo entre meu rosto e suas feições. A nossa causa era a versão única da memória. Naquela viagem em que o frio fora mais forte que a vontade de desbravar o território e nos lançamos nús. O primeiro que não era caro nem barato, perto dos bares, próximo daquele pedaço de madeira onde escrevi a frase que hoje não-me-vem-de-jeito-nenhum. Às vezes lembro que o esquecimento é bom. A essa altura do campeonato eu já teria feito um outdoor com a frase que outrora significou o íntimo. Só para você rir e saber que eu faria todas as tolices da paixão para ver os seus dentes enormes aparecendo. Sempre tive inveja do tamanho dos seus dentes, eu não podia morder maior que você. Não, eu não mordia pequeno. Meus dentes é que insistiam em ser miniaturas do meu potencial, que é enorme. Eu não tava esperando você me agarrar pelas costas e falar meu nome com a maciez que só você alcança. Eu queria esse beijo gostoso. A rede embalando nosso vazio ao violão. O sabor da nossa palavra em silêncio. Que habita todas as varandas e abre todas as janelas dos que têm coragem de amar assim. Profundamente. As luzes se apagam! - Eu te quero muito. - Eu também, pequena.

É você que eu quero

Você que segura minha mão no escuro, eu te reconheço a face pelo cheiro doce , o gosto salgado, pela tinta que eu espalhei no lençol azul que cobre a sua cama. Escuta que eu te quero de um modo despreparado, eu não havia vivido para essas descobertas, meu coração não escreve com balões de neon garrafais para você entender o óbvio. Que é de toda importância esse toque, seu, meu; que retira as dores de cabeça sem vidros nos olhos. É você mesmo que me faz não ser eu para ser melhor, sem bolhas cintilantes de outras galáxias. Você quem vale a pena. É você que eu quero.

Insana

Já pensei em me esvair em palavras, arrancar todas até não sobrar eu. O que restaria então? Sonho travestido de sombra dos dias híbridos. Peito aberto, fratura exposta, meu coração forte, frágil, desvairado em consciência. Quero pintar as paredes de dentro de azul, um azul pungente, que esmagasse a certeza que fazia encantamentos sórdidos. O por debaixo dos panos me vibrava as percepções com a cartola na cuca maluca. Faço mágica com as palavras, mas a platéia percebe o truque? Estou vestida de escolhas, não tem coelho na minha cartola, é tudo paixão. Não acredito em nada que não tenha paixão. A velha falta de compostura. Um reencontro ácido. Intenso. Magnético. Essa lua cheia brilha comigo. Em impulso pensado, entendido, só porque você gosta. Tocava um rock ao fundo. E te bastava a voz de dentro. Nua. A girar pela noite fria; próxima de sentir o gosto cinza calçada que invadia sua bolsa com estampa de artista mexicana. Antes de dormir. Sorria. Com o entendimento de uma pecadora por excelência; ruminando nos corpos alheios, sua audácia de viver.
porque o gosto é diferente. porque o jeito é diferente. a voz mais suave. o desejo mais forte. quando encontra de um lado da rua. quando olha. pelo menos é a sensação que eu espero, que eu quero. do superficial pro absoluto. do vazio pro cheio. querendo encontrar e tocar outra vez. tem espaço pra isso? tem tempo pra mim? talvez eu consiga aprender a deixar a vida fluir sem ser à força. talvez eu consiga entender cada uma das limitações. o tempo não é o mesmo. o desejo não é o mesmo. talvez eu consiga. talvez eu queira esperar. Uma intolerância tinha ganhado espaço na minha devastação, não era o genio forte que me fazia elevar a voz, era a falta, o reencontro com o que morreu.

Astronauta emocional

Perdida como no espaço, alguma expectativa? vai mentir que não. talvez seja hora de começar a seguir meus próprios conselhos. ou parar com essa hipocrisia idiota de se achar dona da razão e das idéias certas. pelo que eu tenho sentido talvez seja o oposto disso. se joga. pula. faz tudo o que quiser fazer. o que, de fato, quiser. não o que pode esquecer na manhã seguinte. se precisa controlar o corpo deixa a alma livre, aberta, ganhando espaço pelo mundo alheio. é fácil? difícil? que sentido esse tipo de limitação pode ter? é o que fica gritando dentro que uma hora se solta de si, se prende em outro. se quer fazer alguma coisa hoje. diz. se quer dizer que sente alguma coisa. faz. passa o tempo. passam as mágoas. passa a vida. passa o forte e volta o superficial. pelo caminho e pela experiência tenho perdido tempo. perdido o foco. perdido memória, lembrança, sentimento, opção, controle. o que pode mudar? me tranca em um lugar, sem porta, sem janela, no escuro limitado pela fresta, me deixa ver o lado de fora sem poder sair. me deixa sozinha. talvez assim eu desista das minhas escolhas. talvez assim eu escute os conselhos que eu não quero seguir. (não todos. faz o caminho oposto e me deixa assistir você se distanciar. fica longe. e canta no volume mais alto. eu guardo a voz na memória. e dentro. até que os poros se abrem e a reação se força a sair. é como uma metáfora. é como uma ironia. uma pessoa que se desliga deixando o mundo no superficial. quando passa por tantos o que justifica se ligar a um? qual é a estranha escolha do acaso que me faz lembrar só dele? o que mais se afasta? o que mais encanta? descanso algum tempo. cansada de bater na porta trancada. cansada de tentar passar pela fresta. pelo menos a voz. cansada da ausência do mundo. e da companhia insuportável de mim mesma. o corpo suado, a boca seca. sussurando. pelos cantos como se alguém que não ver pudesse ouvir. quase ouço a resposta. quase ouço você. e fico voltando. indo e voltando. de um lado pro outro. com o corpo cansado. com a cabeça doendo. tentando dormir pra começar a viver do lado de fora.

Mente acelerada

em uma sala vazia, em um andar vazio. já faz algum tempo que não passo tanto tempo diante de uma tela branca sem saber o que escrever. vou tentando e ocupando as linhas. cada vez mais devagar. sensações no minimo estranhas, sons no minimo impróprios. do elevador vazio. da porta abrindo. junto aos sons habituais. tantos e tantos. uma saída rápida pra mais um cigarro. mais um xicara de café. tentando fazer o tempo passar devagar e ele corre. uma noite que promete ser longa, ser intensa. como tantas. comum. cansativa. excessiva. será que importa essa sensação e esse descaso com que tenho levado a vida? será que realmente faz diferença pra alguém? acho que me soltei do mundo e de todas as limitações e incoerências que as pessoas proclamam. bradam. gritam. o que se faz em silêncio. o que se espalha pela vida. vai contando histórias próprias, abrindo o próprio livro e deixando-se ler. será que conhecer tão bem alguém pode, de fato, gerar certa repulsa? acompanha os olhos que se abrem com sono, o café frio do dia anterior, o cigarro matinal, o imenso percurso do dia, as noites mal dorminas, o excesso de bebida. acompanha. vai falando mais alto, contando mais, pedindo mais atenção. como se consegue ficar sozinha em um ambiente barulhento e cheio? Não sei se aceito companhia. se sente deslocada. se sente ao mesmo tempo superior e inferior. maior e menor. parece que em poucos segundos toda a sensação e as escolhas mudam. de uma menina visualmente feliz. parte pro clímax oposto. aí está a grande história, o apice. que vai lentanmente se transformando em um fim de filme, música, história. não acho que desenvolva uma trajetória clara. mas será que é necessário? não acho que as coisas por aqui façam sentido, não espero que façam. vou deixando uma parte de mim fluir de um jeito estranho e contar um pedaço, um segundo, um minuto (no máximo) de algumas dessas sensações. as vezes não acho que quero tanto um conto curto de um bom dia. um sorriso mais livre, não daqueles que se forçam pelo reconhecimento, não de cumprimento. quero mais tempo. mais cuidado. mais respostas. mais força. mais companhias ? qual é a principal busca? qual é o principal desejo e medo que coexistem num corpo só? se me ensinar a superar talvez os sentidos se alterem. talvez eu traga de volta a beleza de certas linhas. talvez eu saiba o que escrever. talvez eu construa novas histórias. sem uma auto-biografia pseudo poética na qual tenta se camuflar. se as pessoas tem medo de deixar a vida contar. eu continuo. sem importar se alguém reconhece. se alguém se encontra. quero mais é guardar no tempo as experiências que eu tive, que eu tenho e que eu posso ter.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ele e ela

Guardava um pedaço do corpo. Tentava sentir o rosto, ouvir a voz. A vontade era aproximar o máximo possível. Eles se encontravam. De um modo meio descrente. Só se viam, deixavam as mãos juntas, falavam, sorriam. Quase choravam quando necessário, pelo menos ela. Andando sozinha por ruas mais que conhecidas, cada trecho, cada esquina, cada bar... a memória não filtra. Mantêm preso cada detalhe. Cada palavra se nutre de um sentido absurdo. Ocasionalmente na mesma mesa, ela quase se apropria desse sentimento absurdo que impregna, que invade. Parece que todo o sentido está aqui, nessas poucas horas, nesses dias que eu fico vivendo ininterruptamente até agora. O eu se mistura ao dele. Parece que fica um medo de deixar reconhecível, de ficar claro demais cada um desses sentidos que transparece por aqui. Ele se consagra no suor, nas mãos frias, no nervosismo. As vezes eu acho que ficar longe, e se manter longe, é de fato a melhor alternativa. Os olhos se abrem ao extremo. O ouvido apurado pra ouvir qualquer um dos sussurros. O nome se prende na memória. Em qualquer lugar que vá, parece o único. Talvez a lembrança tenha de fato o poder de eternizar as coisas. Vou deixar o corpo fingir por mim. Enquanto eu conto aos poucos e sinto forte demais. Eu era puro medo, pura entrega. Deixava a liberdade extrema se infiltrar pelos poros. Como se cada letra gritasse. Pelo som calmo demais que segue por aqui. Se deixa ficar. Estar. Vai seguindo pela calmaria, se é que possível. Se é que ainda resta tempo. Tem o corpo marcado, a vida meio diluída. Só lembra de uns fragmentos, de uns trechos. Vai preenchendo as lacunas, construindo uma vida nova. Ela não era toda feita de boas histórias. E, aqui, vai tentando pelos dias, pelas horas, pelo tempo renovar o que resta. O tempo não é preciso. A vida não foi perfeita. Alterna sentimentos bons e ruins. Vai sonhando mais que sentindo mas, afinal, quem pode dizer que nos sonhos não se vive, não se sente? Pressente. Supõe. Constrói. E mantêm o não querer esquecer. Fica mais forte, o corpo preso à memória. Guarda, assim, os detalhes do que é possível. Se pode sonhar outra vez, que comece agora.

A personagem

A personagem é de fato quem quer ser. Pelo menos por uma noite, extrapolando limites, indo aos extremos, excedendo. Na manhã do dia seguinte os excessos cometidos fazem diferença. Semana conturbada, se deixou fora de si por muito tempo. Entre mensagens, ligações e encontros desnecessários. Sem arrependimentos absurdos, quase não faz parte dela esse pedido insano de desculpas. Se quiser que queira assim. Será que tem certeza disso? Lapsos claros na memória, horas apagadas, sono insuficiente, dor de cabeça. Disfarça o tropeço público. Hoje espera que o olhar tenha sido menos explicito do que lembra. O que descontrola alguém assim? Tem medo de abrir a vida, mas abre. Tem medo de falar alto, mas grita. Tem medo de olhar e falar, mas sente. Tranca o caos, guarda, e explode. Insuportável até para ela mesma. O cuidado anula um pouco a vida. E vai pelo meio das ruas, a hora que for, e vai por caminhos estranhos, como se a confiança, o excesso, o descaso... a protegesse. A vida está chamando agora. Precisa ser mais racional, sensata, até a loucura impõem seus limites. Por hora, senta diante da tela, se protege na personagem que só pensa que é. Enquanto esconde as imperfeições do corpo, dos desejos (nem sempre reais) do que precisa? Agora? Ver o céu. A dimensão dos sentimentos e a reação à eles não pode ser compreendida por aqui. As pessoas se protegem de modos diferentes. Tem medo de modos diferentes. Sentem de modos diferentes. Pena que esse modo pode ser insuportável para todos. Agora faz sentido. Como se convive com um personagem tão instável? Se alguém souber me conta. O sonho e o desejo se anulam. Deixa de achar possível uma mudança nos dias seguintes. Depois da noite. Parece que o tempo passa devagar. Alguma coisa errada, que não lembra. Acorda com o rosto marcado da noite mal dormida, com sobras de maquiagem nos olhos. Com vontades precipitadas. Com ações precipitadas. Mas será que as pessoas realmente devem se impor controle? Se quer ligar, se quer escrever, se quer tentar, desistir, lutar, sentir, fazer, gostar... que faça! Se as pessoas se importam com as reações, as vezes estranhas demais talvez (na verdade eu sei que são) pode pura e simplesmente ser a indicação que essa idéia de caminho era precipitada demais (errada). Os encontros são diferentes, os sentimentos nunca são claros assim. Sem paranóia, sem precipitações, sem excessos, sem confusão, sem caos, sem loucura (só por um tempo), me despeço. A vida segue, e por um tempo, tenho outras coisas a fazer.

Ela

ela é diferente. de um jeito meio torto. se joga fácil, se rende. sem cuidados, sem controles. é distante. passa o tempo contando a vida, abre o livro inteiro e deixa a história voar por aí. palavras descontroladas, frases de efeito sem filtros. sem cuidados. a unha vermelha descascando, o lápis manchando o olho. ela deixou o corpo leve. que a paranóia dos outros fique longe. se te olham diferente deixa olhar. se faz coisas inaceitáveis deixa fazer. precisa fazer o que? ser diferente? agir diferente? fingir? as pessoas ao redor olham sem calma. mais que observam, julgam. se me incomoda? as vezes. se me machuca? as vezes? mas essas são as que menos importam. tem melhores formas de se fazer um convite. tem reações mais cuidadosas. ela deseja mais que pode. fato. ela faz mais do que deve? não sei. os limites se guardam em outras pessoas. uma delas importava. em processo de deixar de importar. só sei que ela pediu um tempo de calma. só sei que ela deixou de esperar pra viver. só sei, que não vai se espelhar em ninguém. se quer saber... o tempo é pouco, a vida é curta. não espera mais tempo e salta do mais alto pra vida. ela anda pela rua mais feliz. ela canta alto com os fones de ouvido. importa que a escutem. ela sabe o que faz bem. se outros sabem, deixa assim. fica perto. mais tempo perto. não deseja mais tocar, falar. mas tem a necessidade incrivel de ver. deixa passar longe. olha pelo canto do olho. fala mais do que devia. deixa uma ligação desnescesária contar do fim de semana. sem ele por perto. o outro lado da linha parecia estranho, parecia não conhecer. até a parte que lembra claro. o que falou? o que ouviu? realmente importa? importa que a mensagem não foi respondida. importa que não liga de volta. importa que passou. se ela quer ficar inventando desculpas pros outros... será que é a única a fazer isso? mas... mas... mas... quando alguém precisa de palavras explicitas... não adianta amenizar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Desisti

"Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a dizer. A coisa mais triste que já me aconteceu. Eu simplesmente desisti. Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. (…) Vou nos lugares, vejo a opinião de todo mundo, coisas que quero somar, mas as deixo lá. Deixo tudo lá. Não mexo em nada. Não quero. Odeio as frases em inglês, mas o tempo todo penso “I don’t care”. Caguei. Foda-se. (…) Me nego a brigar. Pra quê? Passei uma vida sendo a irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Amor só é amor se for assim. Sotaque tem que ser assim. Comer tem que ser assim. Dirigir, trabalhar, dormir, respirar. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Algo entre uma santa e uma pilantra. Desde que no controle e irritada. Agora, não quero mais nada. De verdade. (…) Não quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a mudança, a luta, o jeito. (…) Quero ver a vida em volta, sem sentir nada. Quero ter uma emoção paralítica. Só rir de leve e superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma lágrima para o que for insuportável. Mas tudo meio que por osmose. Nada pessoal. Algo tipo fantoche, alguém que enfie a mão por dentro de mim, vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero não sentir mais porra nenhuma. O mundo me viu descabelar, agora vai me ver dormir e cagar pra ele. Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. O trator da felicidade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e… quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio."

terça-feira, 19 de junho de 2012

Anunciado

Tem um canto lento, leve, baixo. fica visualizando e criando contos. uma casa pequena. portas, janelas e paredes coloridas. Acredita. Não sabe bem em que. Mas, acredita. Acredita nas palavras, nas lágrimas, nos sentimentos anunciados. Volta a acreditar que pode perdoar. Que pode voltar atrás, pra deixar um recomeço que está por vir. Espera. Espera. Cansada na porta de um prédio no qual nunca entrou, diante de prateleiras alheias de livros que quer ler. De discos que quer ouvir. Que lhe alimentam de lembranças, de futuras memórias. De coisas que ainda podem acontecer. Do desejo de aproveitar o tempo perdido. Espera. Mais uma vez. Espera. Deitada na cama de casa, odiando cada ligação não atendida e cada minuto além da hora marcada. Aprendeu a esperar. Se deixou enganar pela fé e por alguma esperança de que as pessoas podem gostar ou precisar dela. Enquanto isso. Mancha o travesseiro outra vez. Caem umas gotas salgadas. Sente. Sente cada um dos dias que perdeu. Cada uma das manhãs e tardes e noites em que se limitou a esperar. Espero ter dado a chance na hora certa. Espero que as boas semelhanças aflorem esses sentimentos bons de querer perto e de se deixar mudar. Por um tempo prolongado. Não somente pelos dias seguintes.

Vícios

Esqueci dos dias mais calmos. vivendo assim. voltei a lembrar que um cigarro atrás do outro [não que faça bem!] acalma. que o café me mantêm mais tempo acordada. será? a vida saudável fica pra mais tarde. por enquanto os planos, as metas, a necessidade de concretizar as coisas não me mantêm calma o suficiente sem os vícios diários sendo alimentados. o sono que não permite descansar, as noites mal dormidas, a dor nas mãos do frio de uma sala fechada no ar-condionado o dia inteiro, de escrever quase mais do que falo, mesmo sem organizar tanto, mesmo sem concluir o que é necessário. tem tempo? tem que ter. no final de um processo. que não tem sido dos mais fáceis. nem dos mais curtos. que ânsia de terminar não o deixe "inacabado", entre aspas porque nada assim pode estar de fato concluído. aprendendo com alguns erros, submetendo-me às criticas, ainda sem estar preparada pra isso. será que alguém realmente está pronto para reavaliar, os trabalhos, as folhas preenchidas, a vida? no desejo de uma conclusão acertada.

Deixa viver

"tem uma essência que marca e prende e liberta [...] se impregna de palavras soltas e sentimentos livres. se encolhe em si. se encontra mais longe. no lugar que ainda não conhece, no tempo que ainda não imagina. as vidas andam. assumem forças. encontram-se pelas calçadas e esquinas. dentro e fora de lugares e quartos comuns. seja perto. seja forte. seja uma semelhança e um encontro aleatório com quem nunca imaginou. a surpresa se enche e se embala em um conto estranho. daqueles que dizem pouco e muito. daqueles que mudam a vida sem fazer diferença. segue pelas contradições, pelos caminhos inesperados, pelas escolhas variantes. cheio de espinhos que furam e sugam um pouco daqui. de si. dela. do corpo. da alma. da paz. é a calma aprensentando o olhar diverso. é a raiva acompanhando a dispersão. leve-se. eleve-se. livre-se do alheio e vai conhecer a si mesma, enquanto sente a água tocar os pés.em percurso. de escolha em escolha. de detalhe em detalhe. do caótico e gritante olhar. ao excesso de tranquilidade e equilibrio." [deixa viver]

quinta-feira, 14 de junho de 2012

"[...]InfeliZmente, a verdade fez parecer todo o resto mentira." Vi essa frase e muito me lembrou uma pessoa e uma situação.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Você

"Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto. Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho... Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão. E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesma."

J`amor

o "se" paralisa. quantas ponderações fazemos antes de tomar qualquer atitude... quantos medos continuam barrando algumas sinceridades... nessa hora talvez não deva me arrepender de algumas precipitações, afinal, de alguma forma era o que eu sentia, queria, pensava... pelo menos naquele momento. tá certo que nem todas nossas decisões esbarram nessa discussão de arrependimentos. quando deixo o medo e alguma culpa me ocupar deve haver algum problema. não um arrependimento necessariamente, só um "se" eu tivesse tido mais calma, "se" eu tivesse ido embora antes, "se" eu tivesse optado por não viver algumas boas experiências efêmeras, se eu não tivesse falado tudo o que eu pensava naquela hora, se não tivesse "explodido" com o mundo que abre os braços pra mim em alguns momentos. por fim, "se" eu tivesse sido diferente. seria outra pessoa. não a que sente e que confia e vive esses momentos raros de conversas longas, aquelas em que você se deixa vulnerável e frágil ao mesmo tempo em que faz o possível para não perceberem essa fragilidade. pela transparência das experiências que teve na vida, de certa forma, tenta se mostrar forte. e capaz de superar coisas, sentimentos, pessoas, medos... capaz de ir vivendo tranquilamente a vida como se sua cabeça não latejasse de dúvidas, de incoerências. de algumas paixões, inclusive. acontece que em algum momento você se perde dentro de si mesma. não sei por que caminho andei nos últimos dias mas parece que esqueci o caminho de volta para a pessoa que andava vivendo no meu corpo nos últimos meses. era outra. era um pouco de calma, tranquilidade e confiança. era uma segurança estranha que nunca tinha sentido antes. estava sendo forte, tanto que já nem me reconhecia. deu um mergulho de volta à uma "vida" anterior, um momento que não me identificava mais. atitudes que havia lentamente escondido embaixo de algum móvel invisivel de mim. embaixo da superficie. sendo sugado todos os dias por algumas obrigações estranhas de ser uma pessoa diferente, aquela mesma mais calma, mais forte, mais tranquila, confiante... de fato, não sei o que fiz? não sei o que aconteceu? nem imagino. guardei o mundo e as historias na minha memória confusa. inventei uma pessoa. reescrevi algumas lembranças. fui diferente do que queria ser. ainda que de uma forma tão natural. me deixei de lado outra vez. por menos tempo do que antes. mas o suficiente pra ter medo de não conseguir voltar. o caminho é o que você escolhe. agora tenho que decidir a direção, as companhias (ou não), as músicas, os livros e seguir em direção ao meu primeiro horizonte. Quem sabe "aquela história" não mereça uma nova chancea e novos rumos, dessa vez sem mais medos. Só eu sei o tempo que eu levei pra me livrar de todas essas dúvidas. Aconteça o que acontecer, meu coração voltou a bater.
Em algum momento do dia você pára pra pensar na vida, nas escolhas, nos erros... nas situações precipitadas em que tem se colocado. Fica tentando voltar, não por arrependimento, mas por vontade de saber como as coisas poderiam ter sido diferentes. Pesa uma culpa nos ombros, que racionalmente não acho que deva ser minha. Mas como posso me livrar de um sentimento que preencheu esses dias de um jeito tão forte? Tenho medo das lembranças, da ausência delas, do que posso ter falado ou ouvido. Do que posso ter deixado transparecer.
o tempo cura, apaga? [...] espero que sim...

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rasante

Falei do tempo, das pessoas, da falta, das lembranças. Abri o coração, mas o deixei no canto e a razão falando alto dessa vez. Deixei a madrugada guiar além de mim mesma. Deixei à flor da pele, mais uma vez, as frases mal formuladas, as frustrações que precisava descarregar. O lugar do arrependimento é só por ter sido, mais uma vez, a pessoa que não quero ser, que evito ser, que recuso, a pessoa da qual me defendo diariamente. Fica claro. Talvez esteja aprendendo a aceitar o que os sinais indicam, não tenho que ficar inventando justificativas para outras pessoas. A distância tem que deixar de te incomodar. Os sentimentos gritam por dentro. Como se pedisse ajuda, como se estivesse prestes a pular de um prédio achando que a sensação de voo pudesse valer por tudo. Pede por segundos de uma vida. Arremessa. Apoia-se, todo o corpo naquela mesa, naquele canto, naquele livro. Alguma coisa que a impeça, que lhe deixe quieta. Que lhe deixe calma. Não pôde. Amanhece com o olhar turvo, a cabeça doendo, a maquiagem manchada. Essa noite nem ao mesmo foi capaz de sonhar. A não ser que as imagens dispersas, sem ordem lógica que lhe vêm à memória, façam parte de um sonho. Bem que queria. É inevitável. O sonho você não pode gerir, dele você não pode se arrepender, por ele ninguém vai lhe olhar diferente. Afinal, quem é capaz de controlar? Nele você encontra a si mesma. Nele o voo não pode machucar.

Dias

É assim que acontece um dia. Em um dia você aprende a sufocar esses sentimentos. No outro decide abrir as portas do mundo. Em um dia sente falta.No outro acorda com um sorriso incontido no rosto. Aquele simples dia em que volta à sua determinada tranquilidade e leveza. A sucessão de dias. O tempo que vai sendo preenchido. Dispersa os próprios excessos e deixa a calma entrar. Aprendi a arte da insistência do jeito errado. É como se me colocasse sempre diante das coisas, como se deixasse esse ir e vir, esses caminhos meio escuros que vão se abrindo tomarem conta de parte dos meus dias. Nem sei como. Já me orgulhei das minhas características mutáveis, daquele aprendizado que vai correndo junto com você em direção a qualquer coisa que lhe pareça bom naquele breve momento. Depois de instantes, no máximo alguns dias, o tempo muda, o humor muda, o sentido daquela decisão que anteriormente parecia tão acertada e esperançosa fica meio difuso. Você se pergunta se deveria ter parado e pensado um pouco mais, se deveria ter dado mais chance aos dias nublados, solitários, leves, calmos... Será? Será que a minha capacidade de encarar a vida tranquilamente sustenta outra pessoa? Será que a minha felicidade consegue absorver as concessões que têm que ser feitas? Será que eu sou realmente capaz disso? Dessa insistência. Dessa dúvida. Desse excesso de cuidados do que pode ou não ser dito, do que pode ou não ser feito? Eu sei o porquê, ainda que não consiga explicar, mas o dia me deu um grande empurrão pra felicidade hoje. É bom manter um dia que sente a leveza de novos encontros.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Subverter

O que pôde fazer? Correr. De um prédio fechado, as paredes que se fechavam em torno de si. E corria. Como se pudesse passar por elas. Como se fugisse e ao mesmo tempo fosse de encontro aos seus medos. Estavam todos lá, tão presos quanto eu, mas parados. Comportamentos diferentes, com certeza. Quem é capaz de correr e me encontrar na porta? Sei que nossos medos, receios são os mais diversos. Sei que eles não se encontram em um ponto e passam a caminhar juntos. Sei que cada um tem suas próprias referências, vontades, desejos... Será que em alguma parte do caminho eles podem se encontrar outra vez? Ou será que fingimos demais, que mantemos os nossos sonhos calados para tentar viver essa coincidência? Uma breve coincidência. Uma que não lhe deu tempo de falar ou demonstrar qualquer coisa, além da reserva que tem em relação a qualquer outra pessoa que chegue perto e ocupe um pouco os seus pensamentos. Foi do jeito errado? Já não dá pra saber e talvez nem mesmo importe. Essa intenção de progredir com a vida em fases, de ir amadurecendo, crescendo... Em alguns pontos encontra falhas. Em algum ponto todos nós somos extremamente imaturos, não é a idade ou o que já viveu antes que dita certo sentimentos. As diferenças estão em quem consegue ou não contê-los, disfarça-los, fingi-los. Passamos de um ponto para outro. Do que começa ao que acaba. Do que alimenta ao que mata algumas esperanças. A vida é cheia desses clichês que parecem obra do acaso, que parecem contar e coincidirem na vida de cada um. Somos diferentes, definitivamente. E, ao mesmo tempo, tão iguais. Tão insensatos, tão difíceis, tão complexos...

sábado, 2 de junho de 2012

Mais tempo

Já estivemos lá fora num dia como esse. Já passamos horas olhando o movimento do céu. Já fomos quase uma pessoa só. O sol da manhã já entrou de leve pelas frestas da janela do nosso quarto. Já sentimos tantas coisas comuns até o dia em que esquecemos um do outro e deixamos a vida nos desgastar naturalmente. De vez em quando nossos rostos ainda se encontram, de vez em quando as imagens do dia nos lembram do que hoje parece tão distante. O que faz uma marca como essa cicatrizar? Se é que é desejo de algum de nós que cicatrize. Outro dia me peguei rodeada de algumas fotos, de algumas lembranças, rodeada dos dias vividos e de todos que imaginei. Daqueles possíveis reencontros tão desejados em algum momento que já não lembro quando. Me vi cercada de sentimentos que ainda não consegui afastar. E o que sinto agora? Vendo esses outros rostos que passam, ouvindo outras vozes, sentindo outras peles, o que ainda é possível preencher longe da memória? Lembro da sua mão segurando a minha, lembro dos seus olhos, das suas gírias, do rosto, das lágrimas e sorrisos, dos cuidados, dos ciúmes, do sentimento que nunca fomos capazes de nomear. Só passamos um tempo nos desejando perto um do outro. Só passamos um tempo distante das certezas. Só passamos um tempo juntos. E foi, e quando lembro ainda é, uma das saudades mais fortes. Éramos tão diferentes. Continuamos tão diferentes. Mas de alguma forma, mesmo com o tempo que dizem que faz curar, você ainda se mantêm em mim.

A arte do disfarce

O tumulto, contraditoriamente, é o que mantêm a minha ordem. Será que alguém ainda não percebeu isso? Se alguém espera facilidade por aqui, que mude de rumo. Tenho alguns caminhos expostos... Setas reluzentes com as dúvidas, receios, constrangimentos [ os de agora e os que ainda vão surgir]. Se estagnar é o pior defeito já encontrei minha hora de mudar. Ou melhor, de soltar as paranóias reclusas, deixá-las viverem sem mim, e correr. Abraçar o mundo [metaforicamente, claro] e entregar, de fato, a alma pra liberdade que eu fico proclamando aos quatro ventos.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Lado

Em permanente encontro com o reflexo na intenção de deixar à mostra mais que o próprio rosto. Deixando fluir pelo sorriso, pelos olhos, pela voz toda a incoerência que lhe é própria. Não é preciso provar nada a mais ninguém, em minhas conversas aleatórias vou contando pro mundo, pra mim mesma os sentimentos mais fortes e mais confusos que alguém pode ter. Os dias vão indo, seguindo naturalmente, deixando as marcas anteriores pra trás... Em encontros com a memória consegue aprender. O tempo já encontra suas próprias barreiras, então, que os dias venham mais livres do que eu posso suportar.

Me olha

É com cuidado, com todo o cuidado. Ela pensa em cada palavra, planeja o tom de voz, a velocidade com que vai levando a conversa de um assunto trivial a uma confissão. Uma daquelas que estão explicitas. Fica imaginando o que faz alguém ser tão... tão inexplicavelmente... Como alguém é capaz de fingir... De omitir... tão bem. Já faz algum tempo que perdeu essa fragilidade. Já faz algum tempo que aprendeu a desocupar o coração, o que for, das paranoias que se infiltram sem perceber. Já faz algum tempo que ela aceitou que para algumas coisas ninguém amadurece o suficiente. Aprendeu a aceitar o ridículo em que algumas situações lhe colocam, aprendeu isso no momento em que não precisou ser melhor ou pior que qualquer outra pessoa. *** Quer voltar, seja pra que lugar for. Ela rasteja entre o sonho e a vida real. Fica esperando que alguma parte da vida se concretize. Não pode dizer que alguém a conhece. Não pode dizer que conhece alguém. Ela se limita a ficar parada, quieta num canto tentando observar detalhes à distância. Ela quer se ver no espelho, daqueles pequenos onde só se vê um pequeno recorte do rosto. Será que vale procurar tantos detalhes próprios? Ela quer se ver. Antes que qualquer um a veja.