segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cada palavra deve ser conduzida com cuidado. Há um amor pela forma de expressão, um que se apega ao papel, à caneta... Um que admira os rabiscos em folhas amareladas. Mesmos as palavras soltas, desconexas, jogadas sem ordem em uma folha lhe parecem caras. De que resulta esse apego que lhe mantém presa a cadernos de histórias que lidas hoje não contam coisa alguma? Busca as referências pelo tempo, pela memória, pelas pessoas que conheceu... O que fica de cada uma dessas experiências são as vozes silenciosas presas no papel. Elas lhe trazem os sorrisos de volta. Elas lhe trazem um sono tranquilo. Mesmo quando constantemente a impedem de dormir. Certas vezes as vozes não lhe importam. O silêncio, ou o som baixo da caneta correndo pelo papel é o que é capaz de tranquilizar o seu dia.
Precisa de um reencontro. O que tem a fazer? Volta às antigas folhas de cadernos, agendas, datas marcadas, tantas as coisas que já passaram por ela. Vai à busca de quem foi pra tentar entender a confusão que a prende em cada novo dia. Como o tempo esperado a faz transformar os sentimentos. Como a paciência se esgota. Como as dúvidas vão penetrando tão forte. Como decide apagar tudo pra recomeçar. Pensa em queimar as folhas antigas. Pensa em construir uma pessoa nova. Mesmo nome, mesmo rosto, mesma voz. Mas seus silêncios mudam de significado. Suas frases perdem a clareza até que tenha, finalmente, coragem de falar com todas as letras o que a transformou.Parte cedo demais... de uma ou outra palavra, dessas que deveriam preencher frases longas cheias de explicações. Mas não consegue evitar e deixa o subtendido, deixa o que viria ser, completar a frase precipitadamente. Interrompe a voz do outro com uma respiração mais forte. Com o “não sei”, que deveria mas não conduz a nada. Não deixa o tempo ser natural, com medo das certezas. É mais fácil impregnar-se de dúvidas.