sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rasante

Falei do tempo, das pessoas, da falta, das lembranças. Abri o coração, mas o deixei no canto e a razão falando alto dessa vez. Deixei a madrugada guiar além de mim mesma. Deixei à flor da pele, mais uma vez, as frases mal formuladas, as frustrações que precisava descarregar. O lugar do arrependimento é só por ter sido, mais uma vez, a pessoa que não quero ser, que evito ser, que recuso, a pessoa da qual me defendo diariamente. Fica claro. Talvez esteja aprendendo a aceitar o que os sinais indicam, não tenho que ficar inventando justificativas para outras pessoas. A distância tem que deixar de te incomodar. Os sentimentos gritam por dentro. Como se pedisse ajuda, como se estivesse prestes a pular de um prédio achando que a sensação de voo pudesse valer por tudo. Pede por segundos de uma vida. Arremessa. Apoia-se, todo o corpo naquela mesa, naquele canto, naquele livro. Alguma coisa que a impeça, que lhe deixe quieta. Que lhe deixe calma. Não pôde. Amanhece com o olhar turvo, a cabeça doendo, a maquiagem manchada. Essa noite nem ao mesmo foi capaz de sonhar. A não ser que as imagens dispersas, sem ordem lógica que lhe vêm à memória, façam parte de um sonho. Bem que queria. É inevitável. O sonho você não pode gerir, dele você não pode se arrepender, por ele ninguém vai lhe olhar diferente. Afinal, quem é capaz de controlar? Nele você encontra a si mesma. Nele o voo não pode machucar.

Dias

É assim que acontece um dia. Em um dia você aprende a sufocar esses sentimentos. No outro decide abrir as portas do mundo. Em um dia sente falta.No outro acorda com um sorriso incontido no rosto. Aquele simples dia em que volta à sua determinada tranquilidade e leveza. A sucessão de dias. O tempo que vai sendo preenchido. Dispersa os próprios excessos e deixa a calma entrar. Aprendi a arte da insistência do jeito errado. É como se me colocasse sempre diante das coisas, como se deixasse esse ir e vir, esses caminhos meio escuros que vão se abrindo tomarem conta de parte dos meus dias. Nem sei como. Já me orgulhei das minhas características mutáveis, daquele aprendizado que vai correndo junto com você em direção a qualquer coisa que lhe pareça bom naquele breve momento. Depois de instantes, no máximo alguns dias, o tempo muda, o humor muda, o sentido daquela decisão que anteriormente parecia tão acertada e esperançosa fica meio difuso. Você se pergunta se deveria ter parado e pensado um pouco mais, se deveria ter dado mais chance aos dias nublados, solitários, leves, calmos... Será? Será que a minha capacidade de encarar a vida tranquilamente sustenta outra pessoa? Será que a minha felicidade consegue absorver as concessões que têm que ser feitas? Será que eu sou realmente capaz disso? Dessa insistência. Dessa dúvida. Desse excesso de cuidados do que pode ou não ser dito, do que pode ou não ser feito? Eu sei o porquê, ainda que não consiga explicar, mas o dia me deu um grande empurrão pra felicidade hoje. É bom manter um dia que sente a leveza de novos encontros.