sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Intitulado a você


já não sinto mais o peso do tempo entre hoje e a primeira vez em que ouvi essa música. deve ser porque já faz tempo desde que passei a assistir seu filme de longe. já não ouço mais a escuridão me chamando para a orgia dos pensamentos que querem me destruir. deve ser porque nunca mais precisei de esforço compulsivo para agradar a visão de um outro ser. deveria estar sorrindo, mas sou humana e não me satisfaço. reconheço que sonhos são ilusões e que a realização só acontece para dar espaço para um novo pedido desesperado. já não tenho mais a pretensão de achar que posso encaixar nossas peças, estou com outro problema: escrevi o ponto final daquela temporada. já não fecho os olhos pra remoer velhos erros, já não perco o dia chorando por desilusões. para manter-me firme e forte, delimitei uma linha divisória entre o que tem ou não permissão de interferir na minha vidinha umbiguista. com o blackout aplicado sob certos aspectos, permito-me ficar submersa em uma ignorância programada e defensiva. cresci em uma bolha que tentei estourar na adolescência, mas acabei ainda mais presa em um clichê passado e previsível. na tentativa de caminhar sem a ajuda de ninguém, tornei-me porpurina de final de festa. quando caí na real, peguei o alfinete e tentei fugir novamente, mas dessa vez dando a cara a tapas. cuspi e limpei o prato, consegui dar alguns passos positivos e revigorantes. hoje, com a percepção novamente esmaecida, tento descobrir o quanto voltei a ser o que tanto odiava. enquanto encontro pessoas indesejadas pelas ruas e deparo-me com a realidade, percebo que ainda tenho uma grande dificuldade em lidar com o que não quero presente na minha vida. fui mimada, lógico, tinha o que queria. aprendi a conseguir, aprendi a realizar, nunca aceito não como resposta. deve ser por isso que voltei a ouvir essa música. tantas páginas foram escritas, o diálogo evoluiu suavemente, e mesmo assim ainda mordemos o lábio inferior. parece que o tempo não passou e este é meu novo problema. ficamos girando dentro de um buraco negro de tempo em renovação. você esteve sempre presente e eu não perdi um episódio sequer da sua trajetória. havíamos esquecido desta trilha sonóra, mas a melodia, quando aparece, se transforma em lembrança. o som vai direto para o coração e eu reconheço muito bem o que está lá dentro. mesmo que mascarado, mesmo que modificado, mesmo que amadurecido. é o berro de um bebê com cólica, é o castigo de uma menina mal criada.

as pessoas é que são alienadas. eu sou um clichê ambulante. não tenho orgulho de todas as minhas peripécias, mas vou realizar os meus sonhos.

o que eles fazem não é seu ou meu. foda-se o que pensam, nós vamos fazer de qualquer forma. você não quer se divertir como eu?

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