terça-feira, 4 de março de 2008

Casamento


Até houve algumas tentativas de minha parte. Faltam números para falar de todas as vezes em que engoli em seco os desaforos e atos que um dia desaprovei. Eu vi minha personalidade, um de meus únicos troféus, virar pó.E eu tenho certeza de que todas as culpas são minhas. Eu não quis desistir. Não aceitei a ideía de meio castelo ser desperdiçado. Fui só eu quem aceitou a condição de não ser a tua prioridade. Por menos avisos que tiveram pregados em paredes, você me deixou pistas desde o início de se seria assim. Você em seu mundo. Eu com minha fantasia de tudo perfeito. Você dizendo que me amava e eu fingindo que acreditava. Que as palavras bastavam.Foi mesmo o tempo que me cegou. E foi por comodidade que permaneci. Não a financeira que sustenta milhões de casamentos. Não por nossos filhos que precisam de um referencial. Não por ter o seu nome carimbado em minha identidade.Eu simplesmente transformei meu coração em um ser atrofiado. Sem ousadia e que se contenta em ouvir um eu te amo em datas festivas. Que não se importa mais em dormir com pés gelados e costas batendo em costas. Estou criando há anos um coração acomodado.A solidão e a idiferença tornaram-se com o tempo tão comum quanto a marca da aliança. Quanto minha solidão nas sextas-feiras.Paixão e entusiasmo foram esquecidos como a nossa casa de praia, que recebe aparos apenas nas temporadas. Um cotidiano foi nascendo para ser seguido 365 dias consecutivos. E as promessas, beijos trocados todos os finais de ano duram tanto quanto uma garrafa de champagne. E foi dessa forma, com nossos sorrisos de plástico e filhos bem educados que convencemos vizinhos e parentes de que somos um casal feliz. Que uma bela casa, uma conta bancária de saldo positivo e restaurante caros aos finais de semana, são o bastante para manter um casamento estável. E até você foi convencido pela teoria. Teve todos os seus sonos profundos durante esses anos que dormiu ao meu lado. Mas vocês estão mesmo certos ao relacionar tudo isso a estabilidade. Tola mesmo sou eu em perceber aos 40 anos que estabilidade não completa ninguém. Que tudo que você me deu foram supérfluos e não podiam me fazer feliz. Que esse casamento não me envolveu nem por um segundo e que falta fez o gosto do risco, do medo de perder e dos ciúmes bobos.O caos começou foi agora com amaturidade e não quando eu disse sim pra você em frente à um padre. E a culpa realmente é toda minha.

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